Clínica
Universitária
de Oftalmologia

Isto é FMUC

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Isto é FMUC – Clínica Universitária de Oftalmologia
A Clínica Universitária de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) tem três componentes: “a assistencial, a científica e a pedagógica”. Os esclarecimentos são feitos por Joaquim Murta, diretor desta Clínica Universitária, bem como do Centro de Responsabilidade de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), há 11 anos. Ambas as estruturas estão, aliás, intimamente relacionadas.


A componente assistencial
No que concerne à componente assistencial, os números falam por si: em 2018, foram realizadas 10657 cirurgias, cerca de 81 mil consultas e, no único Centro de Referência Nacional de Onco-Oftalmologia do País, sito no CHUC, foi realizado o centésimo trigésimo tratamento com braquiterapia.

Tem sido possível manter estes números apesar dos enormes problemas relacionados, quer com a saída de profissionais, significativamente superior à entrada, quer com a falta de espaço, muito devido ao empenho, dedicação e abnegação do pessoal que integra este Serviço.

A saída do Serviço de Oftalmologia de 16 membros, desde 2014, foi colmatada com a entrada de apenas cinco novos membros. Atualmente, dos 45 profissionais que integram o Serviço, 11 são internos.

Quanto aos problemas relacionados com a falta de espaço no CHUC, estes deverão ser solucionados com as obras programadas para o Serviço, no oitavo piso, e com um reajuste quanto ao número de camas existentes: “a maior parte das intervenções é feita em regime de ambulatório, por isso oito ou nove camas são suficientes”, afirma Joaquim Murta. No piso -1 ficará a parte destinada à maioria das consultas.


A componente científica
“No que respeita à parte científica, somos líderes nacionais, de forma incondicional, em termos de Oftalmologia: temos a maior produção científica, o maior número de projetos científicos nacionais e internacionais, com instituições europeias e americanas, e um grande número de ensaios clínicos a decorrer”, assegura o diretor desta Clínica Universitária. A forte aposta do Serviço numa atividade científica de excelência e na qualificação altamente diferenciada dos seus quadros reflete-se não só nos nove doutorados que já integram a equipa de profissionais, mas também nas nove pessoas que integram o Programa de Doutoramento da FMUC.

Apesar das dificuldades e constrangimentos, a forte componente científica é seguramente o principal fator que, a seu ver, “atrai os profissionais e os mantém” no Serviço. “Recebemos igualmente muitos estudantes e especialistas estrangeiros que anualmente vêm fazer estágios de Oftalmologia no CHUC, internos de especialidade de outras instituições hospitalares que aqui vêm complementar a sua formação, assim como um elevado número de alunos que opta por este Serviço para a realização do seu Ano Comum”, indica. A Oftalmologia em Coimbra é, aliás, das especialidades que mais rapidamente é preenchida na escolha realizada após o exame de acesso à especialidade.

Joaquim Murta enaltece as “condições quase únicas a nível europeu” de Coimbra: “Temos um grande Hospital multidisciplinar, um campus universitário com a Faculdade de Medicina e Farmácia e os múltiplos centros de investigação, como o iCBR [Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra] e o CIBIT [Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional], com quem trabalhamos em inúmeros projetos. Pena é que, por vezes, não exista a mesma vontade por parte de alguns. Falta de visão estratégica!”, refere, em tom de desabafo.

Um exemplo da liderança no campo científico é um projeto europeu na área da neuroadaptação, financiado pelo ESCRS (European Society of Cataract and Refractive Surgery), conforme explica Joaquim Murta: “Falou-se, durante muito tempo, na neuroadaptação relacionada com lentes intraoculares, nomeadamente multifocais. Ninguém sabia o que era e foi aqui, pela primeira vez, que se descobriram os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesse processo”. Outro exemplo diz respeito a um projeto a decorrer com o Massachusetts Eye and Ear Infirmary (Boston), no âmbito da degenerescência macular relacionada com a idade. “Podia enumerar muitos mais, mas estes são dois exemplos práticos”, indica o diretor da Clínica Universitária.


Existe, igualmente, uma forte aposta em estudos feitos em parceria com universidades portuguesas e europeias, mas também com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América, e com a Universidade McGill, no Canadá.


A componente pedagógica
Tanto as aulas práticas quanto as aulas teóricas da Clínica Universitária de Oftalmologia são ministradas no CHUC. A preocupação atual do seu diretor passa por fazer um “ensino muito prático e que, por outro lado, possa melhor preparar os alunos para o novo modelo exame de acesso à especialidade”, refere, algo que idealmente resulta numa melhor aquisição de conhecimentos e competências no desenvolvimento da atividade clínica. Os alunos manifestam “um grau de satisfação grande” quanto a este tipo de ensino, conforme destaca Joaquim Murta: “Isso vê-se nos inquéritos”.

Mas, também em relação à componente pedagógica, a falta de espaço – que só poderá ser solucionada com as obras programadas – é apontada como um dos entraves ao seu pleno funcionamento. As turmas são, assim, separadas por três grupos, de dez alunos cada, que se dividem pelas urgências, pelo bloco operatório, pelos exames complementares e pela enfermaria.

Requerendo a Oftalmologia atividades de elevada minúcia, a formação dos internos de especialidade faz-se com “pequenos passos”, tal como explica o diretor da Clínica Universitária: “Temos muito cuidado em relação a isso. Por exemplo, os internos têm uma tutorização constante, não fazendo cirurgia isoladamente. Estão sempre acompanhados com especialistas”.

Para além da precisão exigida, a Oftalmologia é também uma especialidade cirúrgica muito atrativa, dada a sua abrangência: “Toda a atividade clínica, médico-cirúrgica, está apoiada com tecnologia de ponta, tem cirurgia do mais delicado que existe, em que uma gota de sangue é sangue a mais, e em que trabalhamos com vários instrumentos dentro do globo ocular, desde pinças, a tesouras, a lasers, mas também tem cirurgia mais convencional como a oculoplástica e de órbita, em que muitas vezes somos incluídos em equipas cirúrgicas multidisciplinares”, explica o diretor da Clínica Universitária.


Os desafios para o futuro
Quem vê o empenho com que fala da sua atividade, nunca desconfiaria que Joaquim Murta, nos tempos de estudante de Medicina, estava indeciso quanto à especialidade a seguir. O Professor Poiares Baptista tentou até levá-lo para a Dermatologia, mas quem o convenceu a seguir Oftalmologia foi o Professor José Rui Faria de Abreu: “era um homem fantástico que influenciou gerações”, conta.

A Oftalmologia continua, com efeito, a ser uma área clínica de referência em Coimbra, o que explica que se desloquem a esta cidade pessoas vindas de todo o País para consultas e cirurgias: “vêm pela sólida idoneidade científica, tecnologia de ponta existente, às vezes única a nível nacional, rigorosos critérios de segurança e profissionalismo demonstrados”, observa Joaquim Murta.

Um dos desafios passa por (re)criar esta dinâmica, não apenas na Oftalmologia, mas nas demais especialidades clínicas, através de um esforço conjunto entre a FMUC/UC, o CHUC, a Câmara Municipal de Coimbra e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.

Na opinião do diretor da Clínica Universitária, o nível científico do Serviço deve ser sempre elevado, preparando, motivando e envolvendo os profissionais, que “trabalham como um todo”. Também no que respeita à parte científica, o diretor lamenta que o Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (IME) ainda não esteja a funcionar em Coimbra, mas crê que, com a nova equipa reitoral da FMUC, o mesmo será construído e dinamizado em breve.

“O desafiante é procurar que a Oftalmologia em Coimbra continue a ser um bastião crescente de qualidade. É impossível fazer isso sem pessoas, desde doutorados a doutorandos, internos e especialistas, administração, secretariado, equipa assistencial e enfermagem. Temos a vontade, a determinação e a ambição. Precisamos, por vezes, que nos seja dado mais apoio e atenção.”, sumariza Joaquim Murta. Uma ‘visão’ otimista para o futuro.




por Luísa Carvalho Carreira