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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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Os efeitos do consumo de metilfenidato no cérebro

Sobre o estudo

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento muito frequente e estima-se que a sua prevalência mundial seja de 5% em crianças e de 2,5% em adultos. Um número considerável de crianças com PHDA (65%) continua a manifestar os sintomas na idade adulta. Esta perturbação causa problemas significativos em diferentes contextos de funcionamento do sujeito, como a escola, o trabalho, a família e a relação entre pares. Mais ainda, as consequências a longo prazo podem também ser graves. A intervenção farmacológica para controlar os sintomas típicos da PHDA baseia-se essencialmente na prescrição de um psicoestimulante, o metilfenidato.

De acordo com o relatório da Direção Geral de Saúde “Saúde Mental 2015”, as crianças portuguesas até aos 14 anos estão a consumir mais de cinco milhões de doses por ano de metilfenidato. É por isso muito importante compreender melhor quais os mecanismos de ação deste fármaco. Deste modo, este estudo pré-clínico teve como principal objetivo esclarecer os efeitos de duas doses de metilfenidato no cérebro e no comportamento de um modelo animal de PHDA, avaliando simultaneamente o seu efeito num modelo controlo.

Resultados e impacto


O metilfenidato (MFD) é a primeira opção de tratamento farmacológico para crianças e adultos com PHDA. No entanto, o uso deste fármaco não é consensual, principalmente devido ao desconhecimento das consequências do seu consumo a longo prazo. Por outro lado, o metilfenidato é também usado por indivíduos saudáveis para melhoramento do seu desempenho cognitivo. Tendo como ponto de partida a problemática existente em torno do uso terapêutico e indevido/abusivo do metilfenidato, foi delineado um estudo experimental na tentativa de melhorar o conhecimento científico sobre esta temática. As principais conclusões obtidas no âmbito da investigação pré-clínica, recorrendo a modelos animais, foram as seguintes:


- Uma dose elevada de metilfenidato levou a uma alteração na função da barreira hematoencefálica (estrutura que protege o cérebro) e a um comportamento ansioso;
- Numa condição fisiológica (modelo animal controlo), o uso de metilfenidato induziu uma resposta inflamatória;

- No entanto, numa condição de PHDA (modelo animal desta perturbação) uma dose baixa de metilfenidato teve um efeito benéfico.

Em conclusão, com este estudo foi possível evidenciar a importância de uma dose terapêutica adequada para o tratamento desta perturbação, e demonstrámos o efeito benéfico do uso de metilfenidato numa condição de PHDA e prejudicial numa condição não-patológica.

Ana Paula Silva


Brain, Behavior, and Immunity 

Impact of developmental exposure to methylphenidate on rat brain's immune privilege and behavior: Control versus ADHD model.




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