Da música à medicina

Fora da Medicina

VOICEmed

Por me ter sido pedido, e também por ter achado interessante o convite, resolvi tentar alinhar esta meia dúzia de palavras ao abrigo de uma ideia geradora e que não deixa de ser motivante: escrever sobre um tema musical , num texto a incluir num jornal interno da Faculdade de Medicina e tendo por condicionante, o lema “Fora da Medicina”.

Não nego que imediatamente a seguir ao convite e sem ainda as necessárias explicações daquilo que se pretendia, apanhei um susto sério, por imediatamente me ter ocorrido a ideia de que ia haver expulsões naquela faculdade!

Mas não, felizmente não! Ultrapassado este bloqueador afectivo logo me pus ao trabalho.

Obviamente que encontrar um tema ia ser tarefa fácil. Primeiro porque o número de médicos ligados à música é enorme; segundo porque o número de livros e artigos, comunicações e tomadas de opinião sobre o valor cultural, educativo, anímico, lúdico e terapêutico da música nunca mais tem fim! Infelizmente o universo de situações é de tal modo vasto que a dificuldade se apresentou em moldes contrários, ou seja, como conseguir escrever um texto convincente, tendo eu tão somente, por limitações editoriais, lugar a uma simples página A4?!

Foi então que me ocorreu o acto criativo salvador: atendendo a que já há meia dúzia de anos tenho vindo a ser o maestro responsável pelo Coro dos Médicos da Região Centro, porque não falar da razão de ser deste coro e dos objectivos sintéticos que a ele presidem.

A classe profissional dos médicos é, entre outras, uma das que tem vindo a facturar, ano após ano, um dos maiores níveis de suicídio. Com facilidade se poderá entender este facto, se tivermos em conta a exigência da profissão, a responsabilidade, a maturação ética, o desgaste das urgências e todos os outros parâmetros directa e intensivamente ligados à vida humana, sua preservação e cura. Assim e só por esta curta referencia ao muito que aos médicos é pedido, de imediato se entende a razão de ser deste referido coro! Com ele se pretende utilizar a música como forma terapêutica, lúdica, comunitária, anímica, sinalizadora e, porque não, educativa. Cantar num agrupamento musical é, entre muitas outras coisas, uma forma de entregar à afectividade, o relaxe e o prazer de se sentir envolvido e liberto, numa “anestesia” ligeira e momentânea, que cria condições de alheamento e recuperação emocional.

Depois é ainda a descoberta de novas sensibilidades e diferentes formas de “consumir” um bem cultural e artístico único. No plano físico, é uma forma intensa de entrega, que ao obrigar a agir tecnicamente, revigora e liberta! Afectivamente provoca uma participação estética e interpretativa. Por fim e cognitivamente, maturiza e caracteriza áreas concretas da taxionomia gnósica, através da sua evolução, conhecimento e avaliação.

Tanto haveria ainda para dizer! Mas o povo sábio assim remata: “há mais marés que marinheiros”!...

Por mim , só teria lógica acabar de uma só forma: venham cantar para o Coro dos Médicos!!!...

Virgílio Caseiro