Ressonância magnética funcional estabelece ligação entre disfotópsias e cérebro
Sobre o estudo
A catarata é a principal causa de cirurgia ocular e consiste na substituição do cristalino por uma lente intraocular, habitualmente monofocal, que apenas corrige a visão de longe. As lentes multifocais permitem uma adequada visão de longe, perto e média distância sem óculos e são cada vez mais utilizadas. Contudo, as queixas de disfotópsias (encadeamento, halos e brilhos) que alguns doentes apresentam levam à sua substituição em 4-12% dos casos.
Desconhece-se a razão para o facto de os doentes apresentarem sintomas de gravidade diferente, uma vez que não existe correlação entre sintomas e parâmetros objetivos (como erros refrativos e dispersão de luz). A diferente intensidade das queixas tem sido atribuída à neuroadaptação (capacidade do cérebro se adaptar perante a modificação da imagem que lhe chega), mas o assunto é controverso.
Neste trabalho, utilizámos ressonância magnética funcional para esclarecer a ligação entre disfotópsias e as características funcionais do cérebro humano em doentes com lentes multifocais. Mostrámos, pela primeira vez, a associação entre as queixas reportadas pelos doentes e a atividade funcional do cérebro em tempo real. Observámos a ativação de áreas cerebrais dedicadas à atenção, aprendizagem, controlo cognitivo e execução de tarefas por objetivos, sugerindo o início do processo de neuroadaptação.
Resultados e impacto
Os conhecimentos assim adquiridos terão aplicação na avaliação de diferentes desenhos de lentes intraoculares e de estratégias terapêuticas que favoreçam a adaptação. Permitirão também uma melhor seleção dos doentes que beneficiarão com estas e outras lentes multifocais, através do desenho de testes pré-operatórios que tenham em consideração a parte cortical da visão. Numa perspetiva mais abrangente, este trabalho demonstra a capacidade do cérebro não jovem para a aprendizagem visual e plasticidade.
Ophthalmology, the American Academy of Ophthalmology Journal
Andreia Rosa