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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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Relação entre MICROglia e perturbações psiquiátricas

Sobre o estudo


O desenvolvimento do cérebro, nomeadamente durante a gestação, condiciona a saúde mental ao longo da vida. O sistema imunitário especializado do cérebro, que defende este órgão vital contra vários tipos de agressores ao longo da vida, desempenha também um importante papel no desenvolvimento. Pequenas células deste sistema (conhecidas por MICROglia) são importantes intervenientes na arquitetura de um cérebro saudável.

Consequentemente, fatores internos ou externos que perturbem estas células imunitárias podem contribuir para a formação de um cérebro mais suscetível a patologias de foro psiquiátrico. Alguns medicamentos administrados à mulher grávida, certas patologias ou a exposição a situações de stress e ansiedade são potenciais fatores perturbadores da MICROglia.

Neste estudo, que seria impossível de conduzir em seres humanos (por recorrer a técnicas invasivas), usamos animais de laboratório para mostrar que a indução de alterações às células da MICROglia no final da gestação pode resultar numa “anomalia” permanente do sistema imune do cérebro e associar-se a um quadro de ansiedade crónica. Mostramos ainda que as alterações sofridas por estas células imunitárias são diferentes entre sexos, o que pode ajudar a explicar (e melhor contrariar) a maior suscetibilidade das mulheres a estas doenças do cérebro. 

Resultados e impacto

Distúrbios de ansiedade e depressão são doenças psiquiátricas prioritárias em termos de políticas de saúde pública, em virtude de alterações sociais recentes que conduziram a uma exposição a situações de stress intenso e prolongado. Estão associadas a um preocupante absentismo laboral, a um consumo de medicamentos abusivo ou inadequado e a um maior risco de suicídio.

É muito importante identificar os fatores de risco que aumentam a predisposição para estas doenças, tão precocemente quanto possível, idealmente desde as fases iniciais do desenvolvimento do cérebro. Neste contexto, há duas descobertas centrais neste estudo: a primeira prende-se com a identificação do sistema imunitário do cérebro como um elemento de fragilidade durante o desenvolvimento e, por isso, um fator predisponente a doença psiquiátrica (novo alvo terapêutico); a segunda foi a identificação de diferenças imunitárias entre sexos, que podem ajudar a explicar a maior suscetibilidade das mulheres a doenças como a ansiedade e a depressão.

Esta informação acrescenta ao conhecimento das patologias psiquiátricas por ajudar a clarificar o papel do sistema imunitário e das diferenças entre sexos na génese destas doenças. É conhecimento que cria novos desafios nos domínios da prevenção e do desenvolvimento de novos medicamentos, que poderá impulsionar estudos centrados no futuro tratamento diferenciado de homens e mulheres.


Molecular Psychiatry

"Adenosine A2A receptor regulation of microglia morphological remodelling - gender bias in physiology and in a model of chronic anxiety"

Catarina Gomes


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