Nasceu numa sexta-feira 13. É supersticioso?Não sou supersticioso. O número 13 sempre me deu sorte e sempre gostei dele. No liceu fui várias vezes o 13 da turma, e esses anos foram os melhores do ponto de vista académico. Até me casei no dia 13, por causa das coisas! Só não foi a uma sexta-feira porque não é hábito num dia de semana.
Pensou ser arquiteto, mas o curso não existia na Universidade de Coimbra em 1977.
Hesitei muito. Não tinha propriamente uma vocação forte por medicina. A minha vocação primordial era arquitetura, mas queria estudar em Coimbra. Ponderei ir para Engenharia Civil, que não me enchia as medidas, e acabei por decidir-me por Medicina, que também me agradava. Ainda hoje gostava de tirar arquitetura, se tivesse tempo.
O que o levou a optar pela Medicina Legal?
Não comecei por fazer Medicina Legal. Nunca fiz o teste de acesso à especialidade. No meu tempo, os assistentes de carreira das cadeiras básicas podiam escolher a especialidade que quisessem… Tinham, aliás, direito a uma vaga supranumerária. Eu era assistente de Bioestatística, o que não era de admirar porque os meus pais eram ambos professores de matemática, e podia escolher a especialidade que quisesse. Comecei por optar pela Obstetrícia, mas, entretanto, abriu um curso de pós-graduação que estava fechado há cerca de dez anos, o curso superior de Medicina Legal. Encontrei dois colegas na Praça da República, que se iam inscrever, e, como tinha tempo livre, resolvi ir com eles e inscrever-me também.
Quando cheguei ao final, o professor Oliveira Sá chamou-me ao gabinete, e disse: "Gostei de si e penso que gosta de Medicina Legal. Não tenho sucessor e gostava que se dedicasse a esta área. Podia vir para meu assistente, mudando da Bioestatística para aqui". Pensei um pouco e mudei. Ainda hoje a minha mãe me olha de lado por causa disso, nunca aceitou muito bem. Mudar para Medicina Legal, que na altura nem era especialidade, não era bem visto… Achei, todavia, que esta era uma área na qual poderia fazer mais do que noutras. Havia muito por fazer. Na Obstetrícia, se calhar, iria ser apenas mais um, mas a Medicina Legal, à data, nem era especialidade reconhecida pela Ordem dos Médicos. Havia muito pouco, para não dizer que não havia nada: não existiam sequer serviços médico-legais cobrindo o país. Havia três institutos que trabalhavam de costas voltadas. E pensei: "Aqui posso fazer mais e deixar um contributo relevante". Era uma área que estava a precisar e onde poderia fazer obra.
Quando deixei o Instituto [Nacional de Medicina Legal] em 2013, estava ao nível do melhor do que se faz no mundo. Organizei em Portugal todos os grandes eventos internacionais no campo da medicina legal e das ciências forenses. Tive o gosto de presidir às principais organizações da área, a dada altura até a três ao mesmo tempo.